Crônica - Três Palavras
O dia estava escuro. Nuvens pesadas pincelavam o céu aqui e ali, anunciando a chegada de uma tempestade, porém, para um jovem casal sentado em um banco qualquer no canto da rua pouco importava a possível chuva... Estavam vivendo seu próprio furacão.
A moça chorava, com os olhos vermelhos e as bochechas molhadas, as maçãs do rosto meio rosadas por culpa da raiva incontrolável que invadia seu ser. O rapaz, indignado, exclamava em tom considerável que o drama da situação era completamente desnecessário, e tudo parecia piorar com a carga excessiva de exageros expressa pela namorada.
_ Como pode pensar que fiz isso para provocar você? Sabe muito bem que sei dos seus gostos e desgostos como a palma da minha mão! Não perderia meu tempo com atitudes para te alfinetar. – os argumentos do menino de nada valiam. Pelo contrário! Cada palavra aparentava ser uma agulha afiada que, ao ser proferida, perfurava o coração da garota e a fazia chorar mais.
O problema? Olhares e sorrisos soltos por ele ao vento sem motivo, mas que para ela tinham destino certo, com nome, sobrenome e um cabelo loiro estonteante e liso.
_ É claro que a única coisa que penso é que faz isso para me provocar! Tenho certeza que era para ela que estava olhando! – as frases vinham salpicadas de rancores e mágoas antigas, costuradas na lembrança, impedidas até hoje de terem lugar em uma discussão.
_ Mas e se antes de desviar o olhar e sorrir, fosse o seu sorriso que eu estava olhando? – soltou o rapaz num sussurro. – E se me agradasse muito mais o brilho nos olhos que via antes dessas lágrimas chegarem?
Ela engoliu em seco.
_ Mas eu vi... – tentou.
_ E se o que viu não foi a verdade e sabe disso, mas o orgulho não te deixa baixar a guarda para pedir desculpas e resolver tudo do jeito mais fácil? – o tom de voz do rapaz estava aumentando.
_ Eu...
_ E se eu dissesse que odeio discutir a troco de nada e perder quase uma hora que poderia estar feliz com você tentando explicar um problema que sequer existiu com palavras inúteis e vazias? – agora eram as bochechas dele que estavam molhadas, mas por causa da chuva que começava a cair.
_ Mas...
_ Vou derrubar todos os seus argumentos em todas as brigas com apenas três palavras e você nem faz ideia de quais são, porque aparenta não se lembrar delas!
_ Três... Três palavras? – questionou a menina, secando o rosto inutilmente, ignorando as gotas que caíam do céu.
_ Está vendo? Não se lembra! Bem como imaginei!
_ QUAIS SÃO AS PALAVRAS? – exclamou a menina, irada.
Um trovão ribombou no céu. O rapaz ficou de pé, olhou pra cima e gritou:
_ EU TE AMO! – suspirou e olhou para ela. – Eu te amo, droga. Essas são as palavras.