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Até o Fim - colunista Neucilene Santos


O galo canta.

Acordo e não sinto o cheiro de café...

A cama está tão grande e vazia.

Olho pela janela e só vejo uma chuva fria.

Chuva que me faz lembrar de como os dias eram bons...

Que todas as manhãs eu sabia que você ia estar lá, sorridente, fazendo um bolo de fubá.

Olho a penteadeira e vejo seu pó de arroz que eu tanto detestava, pois te deixava pálida, e eu amava suas bochechas rosadas...

Seu gato gordo e perturbado, que subia em tudo, até no telhado, hoje está magro, e nem escuto seu miado...

O pequeno riacho está quase a transbordar, hoje teria peixe frito e aquele vinho que a gente adorava tomar!

Levanto e vou ao banheiro, a toalha que você mesma bordara, ainda tem seu cheiro...

A escova de dente, seu shampoo, seu creme de babosa, deixei tudo como está na esperança de você voltar.

Baixinha brava e mandona que você é, capaz de eu apanhar se dali os tirar...

Baixinha meiga e caprichosa, nunca amei uma mulher como tu, minha linda e formosa!

O baralho empoeirado ainda está sobre a mesa, do mesmo jeito da nossa última partida...

Vendo as cartas que você iria jogar, eu tenho certeza que você iria ganhar, só não imaginava que naquela tarde Deus iria te levar...

75 aninhos você se foi, e levou consigo um pedaço de mim, mas os 50 anos que você viveu comigo, para sempre vou levar... Até o fim.

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